Ericeira é uma vila com alma marítima, onde o som das ondas se entrelaça com o quotidiano e o sal do mar se sente no ar, nas fachadas das casas e até no ritmo descontraído com que tudo acontece. A poucos quilómetros de Lisboa, este refúgio costeiro tem uma identidade própria, moldada pela tradição piscatória, pela cultura do surf e por uma hospitalidade silenciosa, mas autêntica.
Caminhar pelas suas ruas de calçada, entre casas caiadas de branco e azul, revela o coração da vila: miradouros com vista para o oceano, pequenas praças cheias de vida e cafés onde o tempo parece suspenso. Aqui, o mar não é apenas pano de fundo, é protagonista. Influencia o estilo de vida, a gastronomia, a arte e até a forma de pensar.
Desde 2011, Ericeira é reconhecida como Reserva Mundial de Surf, a única da Europa, estatuto que protege as suas ondas, a biodiversidade costeira e a cultura que se desenvolveu em torno delas. E mesmo quem não surfa sente essa vibração no ambiente: livre, leve, criativo e profundamente ligado à natureza.
Ericeira tem algumas das praias mais emblemáticas da costa portuguesa. Ribeira d’Ilhas é a mais icónica, perfeita para longboarders, famílias e para quem procura uma experiência completa de surf, café à beira-mar e paisagem inspiradora. Já os Coxos, com as suas ondas potentes e tubulares, são território reservado a surfistas experientes, tal como a Pedra Branca ou a Reef. Por sua vez, a Foz do Lizandro é ideal para iniciantes, com escolas de surf, aluguer de pranchas e uma zona pedonal com bares descontraídos e refeições saudáveis.
O centro histórico é um labirinto de ruas estreitas, onde se encontram lojas de artesanato, galerias, padarias antigas e esplanadas com vista para o mar. O miradouro da Rua de Santo António é um dos pontos mais tranquilos para apreciar a paisagem e sentir a alma da vila, seja ao nascer do sol com o som do mar, ou ao entardecer com o cheiro das sardinhas a assar.
A Igreja da Misericórdia, datada do século XVII, é uma das mais importantes da região. O seu interior conserva pinturas no teto, um coro com talha dourada e as tradicionais bandeiras da Procissão dos Fogaréus. O pequeno museu anexo guarda objetos que revelam a herança religiosa e cultural da vila, desde os tempos da pesca até à atualidade.
Mesmo quem não pratica surf encontra na Ericeira uma energia singular. É comum cruzar-se com pessoas que aqui vêm para fazer retiros de yoga, viver temporadas em coworkings criativos, dedicar-se à fotografia de paisagem ou simplesmente trabalhar remotamente num ambiente inspirador. O ambiente multicultural, onde se misturam surfistas, artistas, viajantes e habitantes locais, faz com que seja fácil socializar, participar em eventos e sentir-se integrado.
À noite, o lendário Ouriço, uma das discotecas mais antigas do país ainda em atividade, recebe quem procura dançar à beira-mar. Mas há também bares intimistas, música ao vivo, pequenos eventos culturais e sessões de cinema ao ar livre, especialmente no verão.
Para os amantes da natureza, a localização privilegiada da Ericeira entre o mar e a serra oferece trilhos surpreendentes. O Parque Natural de Sintra-Cascais está mesmo ao lado, com percursos como o Trilho El Xavier, curto e acessível, ideal para iniciantes, ou o trilho costeiro entre a Praia Grande e o Cabo da Roca, mais exigente, mas recompensador, com vistas dramáticas sobre o Atlântico. Alugar uma bicicleta é outra forma de explorar a costa e os campos envolventes de forma tranquila e sustentável.
Com o mar ali ao lado, é natural que os sabores da Ericeira sejam dominados pelo peixe fresco e pelo marisco. A vila tem várias marisqueiras reputadas e restaurantes que valorizam a tradição com um toque moderno. O Mar D'Areia, junto ao mercado, é uma das mais recomendadas pelos viajantes, um lugar verdadeiramente "jagoz" com peixe fresco.
Na vila também se encontram opções vegetarianas e cafés de estilo internacional, com bowls, sumos naturais e café de especialidade, reflexo da crescente comunidade criativa e cosmopolita que escolheu a Ericeira como casa. Seja qual for a escolha, o mais provável é que seja servida com simpatia e com vista para o mar.
Chegar à Ericeira a partir de Lisboa é fácil: há autocarros diretos e regulares a partir do Campo Grande (cerca de 4–5 €), e a viagem dura pouco mais de uma hora. Para quem prefere comodidade, um táxi ou transporte por app custa entre 35 e 45 euros, dependendo do tráfego. Dentro da vila, tudo é acessível a pé, e há ainda serviços locais de “surf-taxi” que transportam pranchas e viajantes para as praias mais afastadas.
O ambiente da Ericeira é simultaneamente relaxado e dinâmico. Há muitos expatriados que aqui vivem em permanência, mas a comunidade local continua presente e ativa, especialmente nos mercados, nas festas populares e nas celebrações religiosas. Eventos como a Festa da Nossa Senhora da Boa Viagem, em agosto, misturam fé, tradição marítima e convívio num só fim de semana.
A Ericeira é, acima de tudo, um lugar onde o tempo se alarga. Onde se vive ao ritmo das marés, dos encontros inesperados e da luz dourada que chega ao fim da tarde. Um destino para quem procura mais do que um postal bonito, uma experiência real, humana e ligada à terra (e ao mar).